sábado, 31 de dezembro de 2011

Estação Saudade I

 

Tudo novo? De novo?

Todo mundo fala de ano novo, como quem fala em transformação... Todo mundo finge encerrar ciclos e renovar o guarda-roupa de ideias... Todo mundo finge... Vai ano e vem ano e estamos sempre esperando que venha, do que externamos enquanto viventes, uma solução milagrosa... Conquistas inesperadas... Ah! Quantos sonhos pra cada segundo de embriaguez da champagne da véspera... O novo dia chega e ainda é só mais um dia... Vai ano e vem ano e sempre as mesmas esperas configuram o calendário de nossas vidas... Sem hora certa pra embarcar nesse trem o homem espera, porque ele é muito bom em esperar mesmo não sendo dotado de paciência... No Ano Novo, se é que dá pra pensar assim, enxergar assim, acreditar assim, seja um outro ser que nunca foi... Nada será igual se você fizer diferente. Calce as botas da humildade, cruze outras ruas, busque novos caminhos para o mesmo destino de todos os dias. Não deixe as pessoas esperando por você, não deixe as sementes perecerem em terrenos inférteis, não espere delicadeza de quem só recebeu de você aspereza... Colha, amigo, mas, sobretudo plante... Colha, amigo, mas sobretudo, regue as plantas e o terreno escolhido... Encerre ciclos, inicie novos, vire as páginas do calendário, circule datas novas, apaixone-se ao menos um instante pela vida ( a que levava ou a que decidiu levar a partir de agora). Não seja mais um observador na festa em que sorrisos configuram felicidades passageiras, mas existentes... Ouse... Apaixonar-se, reinventar-se, escrever em poesias um pouco do que é, ouse respirar... Se cai chuva do lado de fora da janela, caminhe pelas calçadas de qualquer cidade, com guarda-chuva descuidadamente inclinado, para sentir os pingos gelados que escorrem pela sua pele... Caminhe sem pressa, olhando nos olhos das pessoas que passam sem te ver... Aprecie a frieza dos passos, o descuido dos gestos, o tamanho da solidão que elas sentem sem saber... Pare em qualquer esquina e observe as caixas de metal cinzentas e desconfortáveis que abrigam vidas, bagagens, pressa, palavras misturadas ao ronco do motor... Faça a sua pausa, abra os seus olhos... Não espere piedade dos que te olham sem te ver, não espere que alguém olhe as cortinas movimentarem-se ao fundo de uma festa cujos músicos já tocaram a saideira... Enquanto eles desmontam seu circo, outros vão entreter-se com o pão... Escreva uma canção, um conto, conte uma piada, dê uma gargalhada, ouça uma canção, leia um livro, espere ao menos uma vez por alguém querido na porta da saída da escola, mande flores sem data especial a ser comemorada, elogie os acertos alheios, não comente os erros (eles não merecem qualquer relevância), fotografe seus amigos e suas viagens, cresça... Vista azul, branco, rosa, vermelho ou qualquer outra cor, mas guarde dentro do coração um arco-íris e dentro da mente arsenais inteiros de fogos de artifício e palavras inteligentes... Não faça isso só quando um ano termina e o outro começa... Torne-se, você mesmo, o fim e o recomeço, a verdade e a compreensão... Fragmentos serão deixados por você em outras histórias... Cuide para que com eles, os transeuntes daquela estrada consigam montar o próprio quebra-cabeças da vida... Viva... Sem receitas... Assista um filme, deixe escapar uma lágrima, cantarole qualquer música tola que lhe faça sorrir, mas não sorria o tempo todo e nem fale o tempo todo... Os que falam demais pecam por não ter conteúdo suficiente para tal... Os que riem demais podem ser facilmente confundidos com os tolos... Lembre-se: Há no silêncio o maior de todos os discursos... Olhe de longe quem você quer por perto, mas convide a uma taça de vinho quem lhe corresponde o olhar... Responda com um "talvez" quando quiser instigar curiosidade... Responda com "Hum" quando quiser encerrar um assunto... Queira com todas as forças passar pelas estradas que pisa, queira com todas as forças abraçar os que abraça... Permita lábios quentes, apenas a quem te dê um coração sadio para amar... Se desejar amar, seja leve... Ternura nunca é demais, respeito e sinceridade, também não... Se for amar, lembre-se que é quando a rotina se achega que o verdadeiro amor dá provas de sua existência... Se for amar, não se envergonhe de rir sozinho, nem de ouvir músicas que denunciam o sentimento... Atreva-se a olhar no espelho, meu caro... Sem pressa... Aprecie seus olhos, perca-se neles, mas não seja Narciso... Desconstrua ao menos uma vez na vida, alguma mentira que lhe ensinaram na escola, tenha um pouco de sabedoria e dois de ousadia... Experimente ao menos um prato que nunca tenha comido... Abrace alguém que nunca tenha abraçado... E, se tudo isso, lhe parecer tolo demais... Continue aí, parado, cinzento, entre paredes da mesma sensatez que lhe diz que nada pode ser feito... Mas, mesmo assim, sonhe... Em algum momento, de alguma forma, quando você olhar pra trás, haverá uma sensação de que algo valeu a pena... As cenas que vierem à mente, recordações, fotos antigas, recortes, históricos, tempos, palavras, rostos, nomes... Estes fragmentos serão a prova de que houveram os momentos certos e as pessoas certas em algum tempo, certo ou errado... Essas lembranças serão a prova de que existia algo pelo qual valia a pena ter vivido...


A todos os anjos queridos, a inspirada canção de Pepe Donato...

 

2 comentários:

  1. Meu amor, eu amei o texto e blog novo. Muito. Parabéns.

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  2. Querido anjo, sua opinião é muito importante pra mim... Obrigada, hoje e sempre...

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